terça-feira, janeiro 25, 2011

Missa de 7° dia

"Missa de 7° dia.

Caros amigos, é com ENORME pezar que comunico o falecimento de minha mãe, ----. Como um dos maiores desejos dela era me ver na faculdade, achei que seria bom convidar vocês, que estarão comigo pelos próximos anos (...). Como ainda tenho pouca convivência com vocês peço perdão desde já, caso não reconheça algum dos que comparecerem. Todos que forem serão muito bem recibidos. Obrigado e abraços a todos."

- Tópico criado na comunidade Medicina UFRJ 2011
___________________________________________

Meu Deus.

Eu não conheço o menino que escreveu isso. Eu não sei quem ele é, só sei seu nome e que provavelmente ele será meu colega de turma esse ano... Porque, então, eu me vi em prantos ao ler esse parágrafo em voz alta? Eu sei que essa dor eu não posso entender ou sentir, mas de alguma forma, eu sinto alguma coisa aqui dentro... Parece piegas demais? Ou soa idiota? Eu acho que soa bobo, talvez porque meu irmão começou a encher o saco depois me ver chorando, mas eu sei que é sincero.

Eu não conheço quem escreveu isso. Eu não sei de nada, sou absolutamente ignorante. Porque, então, meu coração se apertou? Será que a idéia é dolorosa demais? Será que compartilhar do sonho, da carreira, e ter uma mãe que sonha me ver na faculdade de medicina, criou uma identificação?

Eu não sei.
Eu não sei.
Eu não sei.
Nada parece justo, às vezes, disso eu sei.


Você já quis abraçar o mundo?


Eu não conheço o José Lucas e não conheci sua mãe, mas eu, da forma mais sincera possível, sinto. Muito.
Eu vou orar por essa família, se você puder faça isso também.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Fim da Linha

Não adiantaria fazer um post no fim de 2011, pq meu ano ainda não acabou.
Ano passado - esquisitamente passado - não foi 2010, mas foi meu ano de vestibular, e ele ainda não acabou pra mim. Domingo, 2ª e 3ª vou bater na porta do meu sonho de menina.

Desde criança eu sei que quero medicina. :)
Até os 7 queria ser médica ou bailarina.
Até os 9 queria ser médica ou veterinária.
A partir dos 10 fixei meu sonho na profissão mais linda que eu conheço.

Como criança ambiciosa, e completamente sem noção, não me contentei em escolher o vestibular mais difícil possível para o meu eu de dez anos depois prestar (claro, não era a criança Nathássia que iria ter que fazer as malditas provas), e resolvi que o meu sonho teria local pra acontecer: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Aqueles que me conhecem sabem que eu não sou de desistir. Eu sempre corri atrás dos meus objetivos, fosse estudar no Pedro II ou fazer estágio na Fiocruz. Quando, no ensino médio, me dei conta do sacrifício que envolveria alcançar minha meta mor, pensei em mudar minha opção de carreira. O que me impediu de desistir naquele momento é o que me impulsiona agora: não vou me deixar acuar pelo medo do fracasso. Melhor tentar e falhar do que não tentar at all, certo?

Ainda assim, eu sonho com os pés no chão. Sonhar simplesmente não é nada, então eu realmente me esforcei esse ano. Várias vezes disse não aos meus amigos mais amados, aos programas que eu mais queria fazer, aos filmes que eu mais queria ver, às visitas a São Paulo... Um ano inteiro de sacrifícios e delícias, que não me matou, mas me deixou ao mesmo tempo mais forte e exausta.

Toda essa volta foi pra dizer que eu sei que não vou fazer medicina na FMUSP. Não dá.
O fim das aulas do cursinho em 18 de dezembro, com minha última prova de vestibular no dia 19 (UFF) acabou comigo. É como se eu estivesse em um trem em altíssima velocidade, à todo vapor, com toda a minha força, e naquele momento foi acionado o freio.... Não dava mais pra correr assim. Estudei três dias dos 15 depois do fim das aulas no pH e nesse fim da semana, pretendo revisar conteúdo: eu sei que não é o bastante.

Eu sei que milhares de pessoas fizeram cursinhos em São Paulo, ao longo do ano, com cada aula e simulado voltados pro meu sonho de criança. Eu sei que esses cursinhos ainda estão em aula, e os seus alunos sim estão à todo vapor. Eu sei que tenho falhas em diversos conteúdos que são cobrados apenas em sampa, o que pode me tirar pontos preciosíssimo.

Não sei se sou capaz de dizer que fiz o meu melhor. Será que eu não tinha forças guardadas pra estudar com afinco nesses 15 dias? Será que eu não poderia ter mantido meu ritmo? Nunca vou saber. Só sei que meu corpo, minha mente e meu coração estão, ainda, exaustos.

Sabe o que é pior? Essa sensação de nadar, nadar e morrer na praia :)
Ano passado, além de passar pra 2ª fase da fuvest, o que não é fácil, eu fiquei com nota final de 700/ 1000. Convenhamos que pra alguém se formando, no Rio, e sem cursinho, é uma nota bem razoável. Eu sei que esse ano eu tinha chance, afinal, um ano de curso poderia aumentar minha nota o bastante, certo? Sei lá... Sinto como se em três semanas eu tivesse jogado tudo isso fora.

Eu não desisti. Vou fazer essas provas com todo o meu ser, o melhor trabalho que eu puder fazer, mas não acho que isso seja o bastante.

Não é sem chorar que eu escrevo esse post. Meu coração dói um pouquinho cada vez que penso nos fatos, nos números, no candidato ao lado... Eu sei que, nesses três dias, vai ser eu versus a prova, como foi nas quase 50 horas de prova já foram aguentadas por mim esse ano... Mas sério, eu não desisti.

Escreverei em breve, com certeza, agradecendo a Deus pelas vitórias desse início de ano, não deixando de registrar cada resultado. Eu sei que Ele me sustentou, em alguns momentos até me carregando, em cada dia desse ano, e que o que podia ser feito está feito, e que sou grata pelo que vier, já que tanto já me foi dado. Também vou agradecer a minha família, amigos e mestres, todos que fizeram parte dessa jornada.

Por hora, me reservo o direito de sofrer por antecipação.
Até eu, às vezes, tenho dificuldades em acreditar que eu ainda posso, que tudo pode acontecer, mas meu realismo me impede de subir muito em devaneios. Seja por medo de a queda ser grande demais, seja por apreço ao que é lógico, eu me permito pensar nesse fracasso como possível, mas ainda, evitável.